segunda-feira, 18 de abril de 2011

DEPRESSÃO INFANTIL


A depressão mundial tem atingido números alarmantes e não tem poupado nem mesmo os pequenos. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, (OMS), nos últimos 10 anos, o número de crianças entre 6 e 12 anos diagnosticadas com a doença, passou de 4,5% para 8%.  “Os sintomas são os mesmos típicos dos adultos, mas outras manifestações como aborrecimento, irritação, inquietação, tiques, medos, lentidão psicomotora, anorexia e outros rompantes são constantes e frequentes, quase caracterizando uma maneira padrão de a criança reagir, daí a dificuldade do diagnóstico, pois os adultos confundem essas manifestações com birra”, diz o psiquiatra Geraldo Ballone.
Segundo o especialista, nas crianças maiores ou que estejam chegando à adolescência, a depressão vem acompanhada de sintomas físicos: “fadiga, perda de apetite, diminuição da atividade, queixas inespecíficas como dor de cabeça, dor nas pernas e nas costas, náuseas, vômitos, cólicas intestinais, vista escura e tonturas, são as reclamações mais comuns”, diz.
As causas
Fatores genéticos ou influências externas? O que propicia o aparecimento dessa doença nas crianças? “A depressão da criança pode ser ocasionada tanto por fatores externos quanto orgânicos, genéticos ou não. Antecedentes familiares com transtornos depressivos é uma ocorrência em mais de 60% das crianças deprimidas. As questões ambientais, como abandono, negligência, estados carenciais graves, violência doméstica estão também associados a mais da metade dos casos”, enfatiza o psiquiatra.
Danos
Os efeitos desta doença ainda no início da vida podem causar danos momentâneos e até futuros. “Nos primeiros anos de vida, essa doença pode causar deterioração nas relações interpessoais, familiares e sociais, perda de interesse por pessoas, isolamento e na fase escolar, a depressão produz prejuízo da atenção, do raciocínio e da memória, comprometendo sobremaneira o rendimento escolar”, salienta.
A tristeza como companheira
A leitora N., que prefere não se identificar, lembra que começou a se sentir triste desde os 5 anos de idade. "Eu lembro que meus pais brigavam bastante e eu ia para um canto do quarto, tentar me esconder e chorava muito. Sentia medo, solidão”, relembra.
A vida da família, além de ser permeada por brigas, violência (o pai batia na mãe), era também cheia de precariedades.
"Éramos muito pobres, mas o que me dava mais desgosto era ver meu pai bater na minha mãe." Na escola, ela tinha vergonha de se relacionar com outros colegas, passou a ser uma menina tímida e deixou de estudar aos 12 anos. Para fugir de casa e da situação em que vivia, casou-se cedo.  "Ainda muito nova, tive filhos, mas a tristeza e a reclusão sempre foram presentes", recorda.
Aos 19 anos, ela procurou o médico. Com problemas para dormir, nervos à flor da pele, o médico receitou medicação, sem acompanhamento psicológico. "Há mais de 20 anos, pelo menos no meu caso, não se falava muito nisso. Era indicado o remédio e pronto", disse.
Só que N., na ânsia de se ver livre da tristeza, passou a tomar altas doses do remédio e tornou-se viciada, pois a medicação era de tarja preta.
Agora, aos 43 anos, ela diz que reconhece que tem um problema. Toma remédios, mas eles não diminuem a sua tristeza. O marido de N. diz que sempre fez tudo pela mulher. "Fui um homem trabalhador, consegui comprar a nossa casa e, dentro das possibilidades, dar para ela o melhor. Temos dois filhos lindos que já estão encaminhados na vida, formados, com saúde, mas ela não consegue enxergar motivos para ser feliz", lamenta.
N. até sorri, mas logo depois uma nuvem de incertezas e dor sombreia seu rosto e tira o brilho do seu olhar.
Segundo uma pesquisa realizada pela Universidade de Freiburg, na Alemanha, as pessoas com depressão têm alteração fisiológica nos olhos e enxergam o mundo com olhar cinzento. “A depressão é reflexo de uma alteração funcional afetiva capaz de fazer a pessoa perceber a realidade com olhos turvos”, observa o psiquiatra.
"Gostaria de mudar. Gostaria de ser feliz. Mas nunca conheci esse sentimento. A tristeza sempre foi a minha companheira", relata N.
Comportamento
O relato da personagem acima comprova o que diz a medicina, que cerca de 70% dos adultos com depressão tiveram a manifestação da doença ainda na infância. “Crianças de dois anos em diante já podem ser diagnosticadas portadoras de depressão. Estão enganadas as pessoas que acreditam que crianças bem novas não ficam deprimidas porque não têm problemas”, diz. Por isso, os pais devem ficar atentos, pois nem sempre as crianças mostram sentimentos e emoções leais ao seu estado afetivo. E ficar atentos às mudanças de comportamento na criança é importante para um diagnóstico precoce. “Crianças antes bem adaptadas passam a apresentar conduta irritável, destrutiva, agressiva, com violação de regras sociais, oposição à autoridade, preocupações e questionamentos de adultos. Pais e professores devem ficar atentos, pois tais mudanças podem ser decorrentes de alterações afetivas depressivas, pois em muitos casos, o único item a chamar atenção é uma sensibilidade emocional maior, choro fácil, inquietação”, salienta. Outro fator importante decorrente da depressão é que a criança perde o prazer em fazer coisas que antes adorava. “A depressão é emocional, mas o desânimo por sua vez é físico, geralmente é confundida com preguiça e responsável por muitos exames de sangue em busca de uma anemia que não se confirma”, relata Ballone.
Tratamento       
O tratamento para a depressão vai depender do diagnóstico e do grau da doença. “Se for uma depressão reativa a algum estresse causador e a criança não apresentar mais nenhuma alteração afetiva, o tratamento deve ser predominantemente com psicólogos. Se for de natureza biológica, sem que se detecte um agente estressor proporcional, o tratamento é predominantemente médico, com os mesmos medicamentos usados por adultos, que hoje já não viciam como antes. A psicoterapia também pode ajudar bastante. Livrar uma criança da depressão significa dar-lhe oportunidade de desenvolvimento pleno e de utilização saudável de seus recursos mentais”, conclui.
Sintomas
A criança precisa ter pelo menos cinco sintomas da lista abaixo por um período de duas semanas para que seja diagnosticada a doença, de acordo com o Manual de Estatística e Diagnóstico de Transtornos Mentais.
 1- Mudanças de humor significativa
2- Diminuição da atividade e do interesse
3- Não querer ir à escola, queda no rendimento e perda da atenção
4- Distúrbios do sono
5- Aparecimento de condutas agressivas
6- Autodepreciação
7- Perda de energia física e mental, cansaço matinal
8- Queixas físicas
9- Perda ou aumento de peso
10- Aumento da sensibilidade ou irritabilidade
11- Sentimento de rejeição ou de ser preterido
12- Ideias mórbidas sobre a vida e a morte
13- Urinar ou defecar na roupa ou na cama
14- Condutas destrutivas ou socialmente hostis
15- Ansiedade
Fonte: Arca Universal

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